segunda-feira, 12 de julho de 2010

O seqüestro da subjetividade e o desafio de ser pessoa.



É muito simples a pergunta do título.


Alguma vez na vida você já sentiu que você foi roubado? Mas não um anel, uma camisa, não, não é a sua carteira, nem o celular, não. É aquela sensação de que você estava ausente de você mesmo, aquela sensação de vazio quando depois de um relacionamento que terminou, você tem a sensação de que aquela pessoa levou boa parte de você embora. Quando alguém morreu e você tem aquela sensação de que o outro levou você embora. Você também já pode ter experimentado na vida, ver o seu filho nas drogas, por exemplo, seu filho já não é mais dono da vida dele porque se ele fosse, ele pararia com o vício naquele momento que ele decidisse, não é verdade? Quantas pessoas alcóolatras, quantas pessoas viciadas em drogas, maconha, cocaína, craque...não são donas mais das sua vontades porque a droga seqüestrou aquilo que elas têm de mais precioso que é o direito de decidir o destino da própria vida. Esse livro trabalha isso, minha gente, muitas relações humanas são roubos, não roubam o nosso corpo, roubam a nossa alma. Todo processo do diabólico no mundo – diábolos do grego – já diz isso aqui, é tudo aquilo que quebra, tudo aquilo que separa que desune e todo processo do diabólico no mundo, está justamente pra nos roubar, ao contrário do simbólico que nos devolve, que nos congrega.
Nós estávamos falando aqui do jantar, o jantar é uma realidade simbólica, você já parou pra pensar quando você come, por exemplo, o alimento que você está comendo está lhe devolvendo aquilo que seu organismo perdeu no momento que ele trabalhou...as vitaminas, os sais minerais, o ferro, as proteínas, por isso que nós precisamos comer de maneira saudável, o alimento nos devolve a vitalidade, pois bem, existem realidades humanas que têm o poder de nos devolver a nós mesmos também, quando a gente teve aquela sensação de que a gente foi roubado lá no fundo da alma, assim como o alimento tem o poder de nos devolver a vitalidade do corpo, nós temos muitas formas de buscar a devolução daquilo que nos foi roubado ao longo da vida. Nós acreditamos numa religião assim, que tenha o poder pela palavra de Deus, pelo poder da oração, pelo poder da reflexão devolver as pessoas à elas mesmas no momento em que elas percebem que foram roubadas. E nós somos roubados mesmo, a capa já ta dizendo tudo – é um rapaz retirando a máscara, é ele voltando a ser ele mesmo – muitas vezes nos relacionamentos que nós assumimos, a gente acaba se transformando no que o outro quer que a gente seja, muitas vezes em nome do amor nós colocamos máscaras nas pessoas, nós não permitimos que elas sejam elas mesmas e isso é gravíssimo, nós sofremos muito nos momentos em que nós não somos nós mesmos porque é muito triste você não ter liberdade para agir.
Medo, por exemplo, aqui a gente trata disso. Quando a gente sente medo, nós estamos privados de sermos nós mesmos. Falo daqueles medos que são fobias, né porque o medo é natural, ele nos alerta para o perigo, mas por exemplo, aquela pessoa que tem medo de amar de novo só porque ela foi traída no passado, aquele traidor na verdade, ele teve o poder de seqüestrar a sua capacidade de que ela poderia ser amada. Então nós precisamos buscar as suas devoluções, nós não podemos viver ausentes de nós mesmos, se não outras pessoas vão tomar conta da nossa vida e nós não queremos isso, não. O Evangelho é sempre uma proposta de retomada da própria vida, é como diz o Eto, "administrar a própria vida é o negócio mais urgente".
 (Padre. Fábio de Melo)

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